A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) elaborou guia com 17 ações para promover sustentabilidade em 2022. Uma delas está relacionada a convidar o indivíduo para pensar na quantidade de comida que consome. Hoje, mais de 700 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza e a pandemia da Covid-19 só agravou essa situação.
Por outro lado, cada brasileiro desperdiça cerca de 60kg de alimentos por ano, segundo pesquisa feita pela Embrapa. Isso sem contar o que é jogado fora ainda na lavoura e nos supermercados. A estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é que o mundo jogue no lixo cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos por ano. O número equivale a 17% de toda a produção mundial de alimentos.
Vale ressaltar, ainda, que segundo a última revisão da demografia promovida pelas Nações Unidas, a população mundial deverá continuar em crescimento até 2050, ano em que atingirá um pico de 9,8 bilhões de indivíduos. Quanto maior a população, maior o consumo. Para a garantia de oferta de alimentos para todos, será necessário um aumento de 60% na produção agrícola. Paralelo a isso, não se pode esquecer das crescentes restrições dos recursos naturais, mudanças climáticas, contaminação dos solos, alterações no regime de chuvas, desertificação, entre outros problemas ambientais. Nesse aspecto, o combate ao desperdício se torna um elemento-chave no desenvolvimento global sustentável.
Quando se fala em aumentar a disponibilidade de alimentos, combater as perdas e os desperdícios, em princípio, é muito mais eficiente do que expandir a produção em si. Considera-se perda aquele alimento que não chega ao mercado, em virtude de fatores que estão relacionados à ineficiência na cadeia de produção e abastecimento, como deficiências na infraestrutura e falta de tecnologia. É o caso do alimento quando não é colhido ou é danificado durante o processamento, armazenamento ou transporte. Já o desperdício é um ato voluntário que diz respeito, principalmente, aos varejistas e consumidores finais. Ocorre quando o alimento, próprio para o consumo humano, é descartado.
Não se pode esquecer que, além de afetar o uso de recursos naturais e a própria renda familiar, com o desperdício de alimentos aptos ao consumo se perde também a oportunidade de alimentar quem sofre com a fome. Dessa forma, é de suma importância fomentar o diálogo sobre o assunto e fornecer à sociedade informação e conhecimento para que algumas práticas comportamentais possam ser abandonadas.
Ademais, levar essas questões para as escolas e criar políticas públicas são importantes pontos de partida. Como exemplo, pode-se mencionar a doação, por supermercados e restaurantes, de alimentos que estejam dentro do prazo de consumo e preservem seu teor nutricional. O Reino da Bélgica foi a primeira nação europeia a estabelecer lei que obriga grandes redes de supermercados a doarem a instituições socioassistenciais alimentos não vendidos. No Brasil, tal questão ainda caminha a passos lentos.
De acordo com a atual legislação brasileira sobre o assunto, o doador pode ser punido civil e criminalmente, caso o alimento que ele tenha repassado provoque algum tipo de intoxicação a quem o recebeu. Com isso, empresários têm receio de processos. Mesmo que eles garantam a qualidade do alimento enquanto está no estabelecimento, após a saída não se sabe se foi manuseado ou acondicionado. E a responsabilidade continua sendo de quem doou. Devido a isso, a doação de alimentos preparados e que sobram nos restaurantes (a chamada sobra limpa) é quase nula no país.